Política

QUANDO FALTA A VOZ DE MINAS É MUITO RUIM PARA O BRASIL

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Deputado federal fala sobre reconstrução do PSDB e a possibilidade de voltar a disputar o governo do Estado

 

A saída de prefeitos e governadores do PSDB gerou uma crise sem precedentes no partido, que já vinha sofrendo com a perda de espaço político nas últimas eleições, devido a muitas turbulências e disputas internas. Um dos seus principais quadros, o deputado federal Aécio Neves, no entanto, não se deixa abater e promete uma virada nesse quadro, a partir da fusão com o Podemos. Mas o que mais o provoca é a construção de um projeto de país mais voltado para uma candidatura de centro, para permitir uma opção para sair do extremismo e dessa situação “perversa”.

QUAL O CAMINHO DO PSDB A PARTIR DE AGORA?

É inegável que o PSDB passou por dificuldades grandes nos últimos anos, principalmente a partir de decisões equivocadas que foram tomadas em 2022, contra a minha posição, e que nos pediram de lançar uma candidatura própria à Presidência da República. Privilegiou-se a eleição do governador, de São Paulo e do vice- vernador e, na verdade, o PSDB foi abandonado pelo Doria e aqueles que o seguiam. Felizmente o tempo passou, nós retomamos o comando do partido e estamos construindo um novo caminho não só para o PSDB, um novo caminho para o Brasil, ao centro. É um projeto político desapegado de cargos públicos. O PSDB é o único par tido que não participou do governo Bolsonaro nem participa do governo Lula, não é do governo do PT.

Nós estamos dando musculatura a um projeto ao centro liberal na economia, inclusivo do ponto de vista social, responsável na gestão pública, ousado na nossa política externa, como nós fizemos quando tivemos oportunidade de governar o Brasil. Eu, apesar da descrença de mui tos, estou extremamente otimista com esse novo caminho que nós estamos construindo a partir de uma fusão com o Podemos e da filiação de inúmeros quadros em todo o Brasil. Eu acredito que nós chegaremos em março do ano que vem, no momento em que se abre a janela partidária, como um dos três ou quatro maiores partidos do país e o único que não está crescendo alinhado a governos e dependendo de fundo eleitoral e de tempo de televisão.

NA ELEIÇÃO NOS ESTADOS, COMO O PARTI DO VAI SE PREPARAR PARA GANHAR FORÇA POLÍTICA?

Estamos em um processo de reconstrução, isso é inegável. Mas estamos seguindo aquilo que a legislação eleitoral orienta. Na verdade, a minha proposta da PEC que foi aprovada é, a meu ver, o único avanço concreto que nós tivemos no processo político eleitoral brasileiro, que é a lei que acabou com as coligações proporcionais e criou a cláusula de desempenho. Essa é uma PEC que veio do Senado, assinada por mim, depois foi aprovada na Câmara e está levando esse movi mento de diminuição do número de partidos, seja através de fusões e incorporações, como também através das federações.

Então eu calculo que nós vamos chegar em 2030 com não mais do que seis ou sete partidos ou federações com funcionamento parlamentar. Porque é muito saudável para o país. Lembrando que nós tivemos há oito anos cerca de 30 partidos com representação no Congresso Nacional. Então, é um avanço. Nós estamos nessa linha. Só que estamos buscando alianças com partidos que estejam desvinculados, pelo menos na sua maio ria, tanto do bolsonarismo, da extrema direita mais radical, quanto do lulopetismo. Eu defendo e acredito que exista vida inteligente entre os extremos.

Tenho dito isso sempre e, com todas as dificuldades, nós vamos construir esse partido como foi construído o PSDB em 1988, apresentando um projeto de país. Há hoje uma procura muito grande de lideranças políticas, de parla mentares com mandatos, inclusive alguns que se elegeram na aba do bolsonarismo, por exemplo, e já não se sentem confortáveis lá, ou os que estão próximos da esquerda e também não se sentem confortáveis e que estão buscando esse caminho ao centro. Nossas pesquisas mostram que existe pelo menos 40% do eleitorado que nas últimas eleições votou no Lula ou Bolsonaro por rejeitar o outro. Votou no Lula porque rejeitava mais o Bolsonaro e votava no Bolsonaro porque não aguentava mais o Lula. Mas eles não são nem uma coisa nem outra. Vamos voltar a falar com o eleitorado de Fernando Henrique, que me deu praticamente metade dos votos em 2014. Esses eleitores estão órfãos de uma proposta ao centro. É isso que eu me dedico.

E O PROJETO AÉCIO? AÉCIO PODE SER CANDIDATO AO GOVERNO DE MINAS NOVAMENTE?

É claro que tenho andado por Minas e eu vejo um clamor muito grande para que eu volte a disputar eleições majoritárias no estado. Minas perdeu muito do seu protagonismo, da sua capacidade de influenciar nas grandes questões nacionais, o que não é ruim apenas para Minas, como é ruim para o Brasil. Quando falta a voz de Minas, uma voz ponderada, equilibrada, mas respeitada e forte de Minas, é muito ruim para o Brasil. Minas poderia estar ajudando muito a equilibrar essa polarização, ou pelo menos diminuir a sua força.

Infelizmente, desde os nossos governos, desde os governos do PSDB, Minas per deu força, seja com o governo do PT e agora com esse governo do Novo, onde a nossa presença, seja em questões nacionais, como por exemplo, a Reforma Tributária, seja em questões de interesse mais específico do estado, como as relativas à mineração, não há mais uma presença política de Minas. E, quando eu falo isso, alguns aliados do governador se sentem ofendidos, mas não é aqui nenhuma ofensa pessoal.

Respeito o governador como homem público, acho que é um homem correto e de bem, apenas não está, a meu ver, à altura do cargo de governador. A função de governador de Minas cobra posturas e existem algumas funções públicas cuja responsabilidade vai além daquilo que está ali determinado constitucionalmente. E uma dessas funções é a de governador do estado de Minas Gerais, que tem que estar presente, sim, nas grandes questões, nas grandes discussões nacionais. Eu não tomei uma decisão e não vou tomar agora. Eu estou mergulhado na construção desse caminho ao centro. Toda a minha movimentação em Minas vai depender da conveniência para esse projeto. Estou preocupado com a situação de Minas, com uma inovação sadia na política, com o DNA da política mineira, com serenidade, com equilíbrio, que não se alimentem apenas do radicalismo.

O que eu vejo hoje são as pessoas buscando pegar carona na popularidade dos líderes caris máticos de esquerda ou de direita. Só que isso não ajuda o país. Essa não é, a meu ver, a tradição de Minas Gerais. Vou tomar uma decisão lá na frente, dentro do que for conveniente para dar ao Brasil essa alternativa. Mas eu acho que em Minas também merece oportunidade de voltar a ter um governo como já tivemos no nosso tempo, com os resultados que nós tivemos, conversando com nossos adversários, dialogando, que sempre foi a nossa marca, um governo ousado, competente, mas um governo sempre equilibrado e com capacidade de diálogo com todas as forças do país. Lembrando que eu governei com Lula presidente da República. Ele era meu adversário político e nem por isso Minas deixou de avançar mais que qualquer outro estado brasileiro.

HOUVE UM PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO DA SUA IMAGEM? ISSO TE CUSTOU MUITO CARO POLITICAMENTE?

Não penso dessa forma. Fui vítima das maiores aleivosias, de uma ação, na verdade, que foi desmascarada pela Justiça Eleitoral em todas as instâncias. No meu caso, não houve anulação de qualquer inquérito por algum amigo. Eu fui absolvido porque foi comprovado que houve ali uma grande armação para me afastar do jogo político nacional. Claro que isso, do ponto de vista político gera desgaste, mas não a mim, pessoal mente. Continuo com mesmo vigor de sempre. O que eu fiz foi um governo de excelência em Minas Gerais.

Todos os cargos por onde passei nos últimos 40 anos foi com absoluta correção e honra. E hoje, como eu brinco com os meus amigos, não tenho nem multa de trânsito para responder, porque eu fui absolvido de todas as falsas acusações. Mas quem está na política tem que conviver com isso com serenidade. Pessoal mente, no meu caso, que não vivo obcecado por cargos, se eu deixar de disputar em 2026, é uma alternativa.

Se eu conseguir ajudar a construir esse caminho ao centro e o meu papel for não disputar a eleição para me dedicar a essa construção nacional, também é uma alternativa. Então eu vivo hoje com muita serenidade, feliz com que construí até aqui, com reconhecimento. Por onde eu passo, o que eu recebo hoje são homenagens e reconhecimento ao que eu fiz ao longo de todos esses anos de vida pública. Vamos aguardar com cautela, com serenidade, o que o futuro reserva para nós.

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