Comportamento

Uma questão de gênero

vb ed281 julho 24 uma questao de genero

fonte: freepik

 

         A natureza nos ensinou que se nasce macho ou fêmea e a cultura imprimiu nos corpos significados, papéis, funções que os definem de acordo com os interesses impostos pela religião, pela economia, pela política. Enfim, aquilo que era só uma diferença anatômica e fisiológica passa a ser submetido a um conjunto de normas e costumes.

          A dificuldade de se enquadrar nos moldes da sexualidade normativa é vista como patológica; aliás, hoje em dia tudo é patológico, desde o sexo até a velhice.

          Freud foi o primeiro a escutar os pacientes além daquilo que a sociedade tachava de loucura. Sendo assim, ele nos indicou um caminho para escutar mais além dos sintomas buscando no campo das pulsões o gozo de cada um para que se possa saber fazer com isso.

        Falar de além de gênero ou além da anatomia é falar do gozo das pulsões. É falar de um campo inominável que permanece à deriva, operando como potência criadora ou destrutiva. O aprisionamento em nomeações que se julgam eternas é que seria mortífero. Embora num primeiro momento a psicanálise se ocupe em dar nome aos bois, como diz o dito popular, sua ética vai na direção do desejo que, ao ser escutado, impõe que se façam escolhas que não são fáceis principalmente no que diz respeito ao gozo. Afinal, trata-se de algo inominável apenas vislumbrado pela fantasia.

Falar de além de gênero ou além da anatomia é falar do gozo das pulsões

       A sexualidade pode tomar infinitas formas que, ao serem nomeadas, se instauram no campo social, passam a existir e são atuadas. Entretanto, o mal-estar persiste, pois o gozo não é só fálico, é também irrepresentável, instaurando uma busca repetitiva acionando o desejo nunca totalmente satisfeito.

     Talvez só o poeta diga melhor Luís Vaz de Camões: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser

     Todo mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades.”

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