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A atual política econômica brasileira foi sabotada pelo próprio governo que a formulou. Todo o desenho do arcabouço fiscal foi elaborado para sustentar a fome de gastar do governo Lula (nos 16 anos dos governos do PT, a inflação quase nunca esteve no centro da meta). O presidente virou o esculhambador geral da economia ao avacalhar com as metas de gastos. No meio desse ambiente, nem mais os diretores do Banco Central andam afinados, e transmitem a sensação de que os indicados por Lula carecem de autonomia.
Os nossos mecanismos de regulação têm constantes mudanças de regras e, por isso mesmo, minam a confiança dos investidores. Em meio a uma orgia de gastos, a elevada carga tributária já teve uma alta real de 8% neste ano, sem, contudo, atenuar o problema do superávit primário. Cortar gastos jamais fez parte da cartilha petista. O quadro se deteriora pelos entraves de algumas cláusulas pétreas da Constituição que impedem cortes nos gastos da Previdência, da saúde e da educação.
O retorno da velha ladainha em busca de fantasmas inexistentes assombra o atual governo
Como desgraça pouca é bobagem, os cabeças coroadas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal se apoderam de dezenas de bilhões para garantir seus redutos eleitorais via emendas reservadas para as comissões do Congresso. Chegou-se ao cúmulo de oficializar uma nova contabilidade criativa que retira do teto de gastos polpudas verbas (como, por exemplo, os resgates de precatórios e os gastos contingenciais). Na penúria geral que atravessamos, aumentos reais para o salário-mínimo elevam ainda mais os gastos obrigatórios. Outro fator inconsistente, além dos subsídios errados, é o fato de que, quando a receita cresce, várias despesas precisam crescer também (saúde e educação).
Estamos com uma governança retrógrada e controladora da economia, com uma sanha arrecadatória que contamina o aumento de gastos e provoca incertezas. Existia uma janela de oportunidade enorme na nossa frente quando tudo in[1]dicava que as reformas do governo Temer aumentariam a tendência de crescimento potencial do país. Essa perspectiva já se encontra ameaçada. O retorno da velha ladainha em busca de fantasmas inexistentes assombra o atual governo e empurra os juros (Selic) para o espaço sideral. Como sempre, o Brasil perde, uma vez mais, a oportunidade de implementar uma política econômica consistente. E assim combinamos ficção com fixação.