Comportamento

QUANDO A FANTASIA SE TORNA REAL

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Imagem de Alexa por Pixabay

 

Um fenômeno vem ocupando as redes sociais: bebês hiper-realistas mostram como um vínculo real entre os humanos pode ser substituído por vínculos virtuais aos quais vamos nos acostumando. Mudos, sem vida, sem desejo. Com bebês reborn é possível realizar fantasias sem haver reação, nenhum não, nada que contrarie o gozo do Outro, que tudo pode. Seriam esses bebês um reflexo especular daquilo em que as pessoas podem se transformar? Delírio de uma geração que cria uma narrativa sem troca real?

 Aí se inclui a identificação com animais – os therians, outro modelo de identificação oferecido no mercado das ilusões. Esse colapso do laço social deve atender interesses suspeitos como uma grande jogada para aumentar os seguidores das redes e talvez alienar ainda mais as pessoas para que se tornem verdadeiros bonecos ou massa de manobra. Dar direito de cidadania a tudo que se passa pela cabeça das pessoas passa a ser um modus operandi que vai desconstruindo uma ordem social e construindo outra. Será cancelado quem questiona ou diz o contrário. Podemos pensar numa lógica da loucura oficializada de corrente da quebra dos laços simbólicos.

SERIAM ESSES BEBÊS UM REFLEXO ESPECULAR DAQUILO EM QUE AS PESSOAS PODEM SE TRANSFORMAR?

Trata-se não de uma crítica à fantasia com bebês, que parece amorosa e inofensiva. Nem do uso de bonecos como mediadores para alguns estados subjetivos. Mas do fenômeno social em que a legitimação da fantasia pode abrir portas para outras mais ameaçadoras. O colapso do laço simbólico implica a negação do vazio estrutural em que, no mundo de plástico, tudo se domina. Retrato de uma sociedade que dá à fantasia um estatuto de verdade embarcando numa galé social, que pode se voltar contra o próprio sujeito convidado a ser mais um boneco nas mãos das redes que nos governam. Resta-nos cair na real e encontrar recursos para saber-fazer com isso

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